Inicio essa escrita sabendo da probabilidade dela ser lida apenas por aqueles que fazem parte da minha bolha aqui nessa rede social.
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Seria surpreendente se essas palavras chegassem a serem lidas pelos olhos a que se destinam.
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Sr. Costa Neto, tenho absoluta certeza que temos formas de ver o mundo diametralmente opostas.
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O senhor viveu em um ambiente completamente diferente do que vivi.
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Pelo que pude ler sobre suas declarações públicas e seu histórico político imagino que teríamos muita dificuldade para encontrar pontos em comum em uma conversa gentil e amigável.
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Ainda assim acredito que tenho algo a compartilhar contigo. E essa ideia me veio a tona quando percebi que nesse instante o senhor tem um poder que poucos teriam.
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Imagino que muitas das suas ações partem de um lugar inconsciente de agradar (ou até mesmo superar) o senhor seu pai. É quase clichê… e todos passamos por essa etapa, as vezes sabemos da existência dela, as vezes não.
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Também é natural projetarmos as nossas ideias e ideais nas pessoas que nos relacionamos; esposa, filhos, colegas de trabalho ou pessoas que escolhemos para nos representar perante a sociedade.
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Enquanto lia sua biografia fiquei me questionando como foi para o senhor tomar a decisão de renunciar em 2005. Provavelmente foi regada com muita conversa, articulação, aconselhamento e firmeza.
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Também me questionei sobre suas emoções ao ser conduzido para a prisão em 2013. Será que o senhor visitou um lugar interno de dor? Frustração? Culpa? Revolta? Desejo de superação?
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Definitivamente nem imagino como o senhor seja em termos de reconhecer suas emoções. Meu preconceito me leva a acreditar que o senhor seja uma pessoa prática, objetiva e que desenvolve relações baseado em manter sua posição de poder.
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Só que tem uma decisão que o senhor pode tomar nesse instante que afetaria a vida de milhões de pessoas. E é isso que venho tratar nessa carta aberta.
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O senhor pode retirar a candidatura de alguém que deveria ser proibido de estar na política, que deveria ser convidado a repensar o personagem desumano que criou.
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Tenho certeza que sua consciência já lhe falou isso alguma vez, que uma vozinha bem no fundo te questionou se continuar com essa candidatura era realmente uma boa ideia.
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Algumas vezes tomamos decisões baseadas na nossa raiva, no nosso desejo de vingança, ou na nossa expectativa de retorno futuro.
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Só convido o senhor a perceber que está lidando com um personagem e não uma pessoa real.
Ele se perdeu nos roteiros que não foram criados. Disseram a ele para maximizar algumas bases ideológicas que ele nem tem certeza se acredita.
Ele criou uma charge ambulante para dar voz a preconceitos reprimidos.
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O senhor e toda a população brasileira sabem disso.
E algumas pessoas votam nele exatamente por isso.
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Só que já chega!
Esse palco tem que ser desocupado.
As cortinas precisam ser fechadas, as luzes apagadas, o som desligado e o Brasil tem que ser gerenciado de um outro lugar.
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O senhor é um dos poucos que podem evitar de forma emergencial que essa brincadeira prossiga.
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Ponha ordem, feche as portas do seu partido para esse sujeito.
Coloque-o no canto do castigo para que repense seus atos.
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Talvez ele encontre outro partido, mas lembre-se: como personagem irá descumprir qualquer acordo que vocês fizeram, como foi incapaz de cumprir com outros que apertaram sua mão.
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Sou muito mais jovem do que o senhor, tenho uma carreira distante dos bastidores políticos, mas acredito que todo ser humano é movido por emoções.
E é a isso que apelo nessa carta.
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Espero que o senhor (ou quem quer que leia essa carta) reflita sobre a humanidade que ainda reside no ser humano.
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Meu agradecimento pela atenção dedicada.
Att.
Adamo Brasil
12/07/2022