Olhar para mim mesmo é uma arte para ser desenvolvida com tempo, delicadeza e perspicácia.
Imagino como miniaturas minhas dentro de mim. Há aquele amante da música e do cinema que passaria horas nessas atividades, bem como sairia buscando, dentro desse espaço que sou eu, companhias e parcerias para conversar sobre tudo que sabe e acredita.
Esse pequeno [eu], encontraria abraços amigos e também se depararia com críticas e oposições, encontraria outros pequenos [eus] que não compreenderiam sua jornada, e ao acreditarem que estão apenas em busca de viver a sua verdade se deparam com outros [eus] que não buscam a mesma direção.
Aquele espaço (chamado de eu) fica preenchido por vozes, passos, barulhos, cheiros, agrados e desagrados. Uns acabam poluindo aquele ambiente, pois querem se livrar de algumas coisas que não servem mais, outros limpam aquele espaço e reciclam o que chamam de lixo, por buscarem um lugar mais agradável para todos viverem.
A maioria desses pequenos [eus] vivem suas vidas sem ter a menor ideia do que está acontecendo no todo, muitos deles nem percebem que são tão semelhantes ao ponto de parecerem a mesma pessoa. Pouquíssimos exemplares dessa grande população entendem tudo aquilo como uma grande ilusão, e ao compreenderem isso conseguem silenciar o barulho, diminuir a agitação e buscar conciliação entre eles mesmos e o mundo.
Esse movimento conciliatório, por vezes, atinge outras pessoas também, que escuta, processa, media e cria um ambiente para que individualmente cada um ouça a si mesmo, observe a si mesmo, e encontre um lugar de equilíbrio entre o ser, o sentir e o pensar.
Talvez tudo o que eu tenha relatado nesse texto tenha acontecido em um pequeno vilarejo dentro de mim, e eu acredito que há tantas outras paisagens, cidades, povoados e culturas desconhecidas que sequer poderia fazer um exercício de imaginar como seriam.
Tenho me sentido um pouco frustrado com alguns resultados que eu esperava e que não chegaram, e algumas vezes esse pequeno [eu] domina minha tela mental e me causa sensações muito desconfortáveis, para não dizer dolorosas e desesperadoras. Por vezes imagino que se ele fosse expulso dessa comunidade todos viveriam melhor. A questão é que esse lugar que chamo de [eu mesmo] não tem portas, muros ou frestas. É impossível alguém entrar ou sair, seja de livre e espontânea vontade ou não. Alguns podem até nascer, poucos se vão no que chamaríamos de morte, talvez em movimentos profundos de conciliação e de forma amável e pacífica. A maioria vive fazendo muito barulho, em busca de ter atenção, enquanto outros já aprenderam a se recolher e encontrar a felicidade sendo apenas o que são sem se desligarem do apoio que podem oferecer e da sua capacidade de transformar algumas realidades.
Sabendo que não posso escolher quem mora ou vive nesse lugar passo a integrar com uma maior habilidade tudo isso que está em mim.
E quem sabe esse seja um dos maiores desafios dessa caminhada, aprender a ser você mesmo de tal forma que consiga inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo, não com uma receita, nem muito menos com ordens ou cobranças. É como um amigo fala: uma peça de um quebra-cabeça ao estar no seu lugar, já inspira e ajuda as outras a encontrarem as suas posições também (Gustavo Tanaka).
O melhor que fazemos por aqueles que amamos (e pelo mundo todo) é nos tornando seres mais humanos, por mais paradoxal que isso possa parecer, nos aproximando mais da nossa essência. Essa ideia é antiquíssima, saiu dos neurônios de Platão. Há muito tempo sabemos o que é essencial para a nossa vida, a questão é que nos distraímos e que hoje há cada vez mais distrações!
Espero que o reequilibrando seja um movimento que te apoie nessa caminhada que tem sido tão significativa para mim. Um forte abraço, Adamo Brasil.
*Encontrar esses [eus] tem tantas oposições que escrevi esse texto no Word, e ele ficou constantemente me corrigindo quando escrevi a palavra eus. Aparentemente ela não existe, ou é inadequada.
**Reequilibrando é um processo composto por encontros online.